domingo, 21 de setembro de 2014

Artigo: A decepção que virou história

Escrevi este artigo no domingo anterior, após a vitória sobre o Paulista, por 2 a 1, no Riobrancão. Escrevi, mas não publiquei. O Sanderson até me perguntou o que eu iria fazer com este post, apenas falei: "deixe ele nos rascunhos". Não vou dizer que eu pressentia a vitória sobre o XV, não. Mas sentia que eu deveria guardar, talvez isso pudesse acontecer. 

Antes, o título do artigo era: "A decepção que pode virar história. E o pior, os jogadores talvez não sabem". Hoje, felizmente, o título precisou ser alterado: "a decepção virou história". Vou manter meu texto na íntegra, como escrevi no domingo anterior. E, no final, farei as minhas considerações. Leiam, vale a pena!  

"Desde que me conheço como riobranquense, historiador do Tigre, e setorista do Rio Branco, ouço a mesma história: nunca deixe para decidir contra o XV, principalmente em Piracicaba. Achava bobeira, até sentir na pele no ano passado. Para isso, vamos retornar na história do clássico.

1983, segunda divisão paulista, Rio Branco e XV de Piracicaba se enfrentaram por uma vaga na semifinal da competição, na qual se decidiria os ascendentes à primeira divisão. O Tigre vinha de três goleadas consecutivas: 7 a 1 no Guaçuano, 4 a 0 no Primavera e 3 a 0 no Velo Clube. Além disso, o alvinegro já tinha eliminado União São João e Mogi Mirim, antes favoritos ao acesso. 

Tudo preparado para um grande confronto de muito equilíbrio. Que nada! Primeiro jogo, em Americana, e com show de Pianelli, o XV batia o Rio Branco por 3 a 0, com mais de 15 mil pessoas no Décio Vitta. No jogo da volta, mais uma vez Nhô Quim, mas por um placar mais modesto: 2 a 1. Fim do sonho da elite paulista. 

1992, elite estadual, o Tigre brigava por uma das vagas nas semifinais. Em casa, o Rio Branco decidia seu futuro contra o XV de Piracicaba. A meta alvinegra, de início, era subir ao grupo A do paulistão, mas depois, com os bons resultados, a meta se tornou as semifinais. Uma vitória contra o XV deixaria a Ponte em situação desagradável, e colocaria o alvinegro americanense frente a dois adversários já eliminados da competição. Ou seja, o triunfo sobre o time piracicabano era a chave para a classificação. 

Uma pena! O Rio Branco, mesmo com um time muito superior ao XV de Piracicaba, empatou em 0 a 0, no Riobrancão, e ficou só com o acesso ao grupo A. 

Por fim, 2013, segunda fase da Copa Paulista. O Rio Branco chegou à última rodada da segunda fase precisando apenas de um empate para classificar. Este empate teria que ser conquistado na cidade de Piracicaba, contra o XV, o único adversário que poderia tirar o Tigre da zona de classificação. Repito: uma vitória ou empate classificava o alvinegro americanense. A derrota, classificava o Nhô Quim. 

E mesmo com um time superior ao XV de Novembro, deu eliminação americanense. Mais uma vez. E a história voltava a se repetir. Como um estigma, um filme, um replay. Como se estivéssemos fadados a este tabu que aparenta ser indestrutível. 

Agora, viemos para 2014, na mesma Copa Paulista. O Rio Branco inicia a competição de forma decepcionante: cinco jogos, cinco derrotas. Enfrenta o XV, e pimba! Primeira vitória. Importante para reanimar o grupo. Segundo turno, um começo empolgante, e duas derrotas decepcionantes e descreditantes: contra União, no dérbi, e Red Bull. Depois, duas vitórias no sofrimento e na raça conhecida do Tigre. 

Eis que o destino prega uma peça ao Rio Branco. Eis que o Deus da bola, levanta-se da cadeira do Olimpo, e diz: "você, Rio Branco, irás reagir de uma forma belíssima. Serão vitórias empolgantes. Chegarás na última rodada com chances e terás que decidir sua vida no certame. A decisão será lá, na terra onde grandes fracassos aconteceram, na terra onde está seu maior estigma, seu maior tabu. A sua decisão será contra o esquadrão quinzista e em terra da noiva da colina."

É o time da Princesa Tecelã, buscando se redimir historicamente na terra da Noiva da Colina. É o choque alvinegro. 

Ouvi muita gente dizer que o Rio Branco deveria fechar as portas depois da derrota para o Paulista em Jundiaí. Vi o meu Rio Branco ser hostilizado pela imprensa americanense no dia de seu aniversário de 101 anos. Alguns nem mesmo lembraram do aniversário e não emitiram uma nota. Ouvi de muita boca que esse time não prestava e que iria passar vergonha na Copa Paulista. 

Pois é, aquilo que era apontado como decepção, pode virar história. Esses jogadores podem entrar para a história. E de uma forma tão bela: superando as dificuldades do dia-a-dia (como não jantar, o que aconteceu ontem), e quebrando um estigma vindo de 1983. 

Seria uma página heroica. Isso não engrandece o XV de Piracicaba. Nem mesmo apequena o Rio Branco. Isso é normal, do futebol. Até o Cruzeiro, atual campeão brasileiro, tem um estigma a ser quebrado com o depressivo Paysandu. 

A decepção pode virar história. E o pior é que talvez eles nem saibam disso." 

A decepção já não pode mais virar história, pois já virou. Como é bonito ver um tabu se deteriorando, indo por água abaixo. Como é lindo ver o Rio Branco vencendo o XV de Piracicaba, o clássico, o choque alvinegro. Como é belo ver o Tigre de volta, o espírito riobranquense de volta. O alvinegro de hoje, é o verdadeiro alvinegro, perdido com o tempo e com a incompetência daqueles que insistem em tentar fazer parte do dia a dia do Rio Branco. 

Um garoto, um menino, de 18 anos, Wallace, entrou e fez história. Talvez, ele nem saiba da proporção, nem saiba do feito que ele fez ao marcar o terceiro gol contra o XV. Talvez, esse menino de 18 anos, essa promessa, não saiba que o gol que ele fez derrubou um estigma de mais de 30 anos, vindo de 1983. 

Essa é a beleza do futebol.

Um time que, depois da derrota para o Red Bull em Americana, foi apontado como virtual eliminado, e que hoje está classificado e PODE TER eliminado seu maior rival, União Barbarense. Digo que pode ter porque o regulamento da FPF dá margem para duas interpretações. 

Essa é a beleza do futebol. 

Não importa. O "onze" alvinegro de hoje, ficará marcado na história. Não importa se o jogo foi válido por uma Copa Paulista. Nem mesmo importaria se fosse fraldinha, chupetinha, paulistinha e por ai vai. Havia, em campo, um tabu, um estigma e um incômodo. Um medo, até mesmo. E esse medo morreu, hoje. Por causa de um jogo, esse time entrou para a história. 

Essa é a beleza do futebol.

Antes do jogo, escutei uma coletiva de imprensa do Cléber Gaúcho, técnico do esquadrão piracicabano, dizendo que a derrota do XV em Americana, no primeiro turno, foi atípica. O técnico também afirmou que o XV, mesmo sabendo da força do adversário, venceria no Barão. É atípico agora, Cléber?

Essa é a beleza do futebol.

E, também, a imprensa piracicabana apostava cegamente em uma vitória do XV de Piracicaba no Barão. Em alguns momentos, até mesmo, apontaram uma vitória fácil. Assim como os torcedores do Nhô Quim, que se pronunciaram nas redes. E agora, como é saber que dos quatro últimos jogos, o Rio Branco venceu três? 

Essa é a beleza do futebol. 

Tudo ruiu. A nossa camisa se elevou, pesou. A nossa raça entrou em campo. O nosso brio, também. O Tigre voltou. Há quem diga que não. Eu duvido. Voltou como uma fênix. Ainda está amadurecendo, aos poucos. Mas, ainda, alçará grandes conquistas. É só uma Copa Paulista, é só uma competição que não vale (quase) nada. E daí? Vale. Vale a história, vale a tradição, vale a camisa. Vale tudo. Vale, até mesmo, quebrar um estigma histórico sobre um rival. Pois é, vale. Aliás, vale não, valeu. Tudo ruiu. A partir de hoje é uma nova história, um novo parágrafo. E há quem diga que esse elenco não entrou para a história. Poupe-me. 

Essa é a beleza do futebol. 
Gabriel Pitor Oliveira

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